Campanha de Qandala

Campanha de Qandala
Guerra Civil da Somália
Data 26 de outubro - 18 de dezembro de 2016[1]
Local Qandala, Somália
Desfecho Vitória tática de Puntlândia; principal sucesso propagandístico do Estado Islâmico.[2]
Beligerantes
Estado Islâmico na Somália (EIS)  Puntlândia
Comandantes
Xeique Abdul Qadir Mumin[3]
(líder do Estado Islâmico)
Mahad Maoallim[4]
(comandante sênior do Estado Islâmico)
Puntlândia Shire Haji Farah[4]
(Ministro do Planejamento e Relações Internacionais)
Puntlândia Yusuf Mohamed Dhedo[5]
(governador da Região de Bari )
Puntlândia Almirante Abdirizak Dirie Farah[1]
(Comandante da Polícia Marítima de Puntlândia)
Unidades
desconhecida Puntlândia Força de Segurança da Puntlândia
  • Força Dervixe da Puntlândia[4]
  • Força Policial da Puntlândia[1]
  • Força Policial Marítima da Puntlândia[6]
milícias de clãs[4]
Forças
desconhecidas[a] Puntlândia "Centenas" de combatentes,[8] várias canhoneiras[6]
Baixas
30 mortos, 35 feridos,[4] vários capturados[9] (reivindicação do governo) 3+ feridos[5]
25.700+ deslocados[10]

A campanha de Qandala começou quando o Estado Islâmico na Somália atacou e capturou a cidade de Qandala em Puntlândia em 26 de outubro de 2016. Esta aquisição resultou no deslocamento de mais de 25.700 civis e uma posterior contraofensiva pelas Forças de Segurança de Puntlândia, que conseguiu repelir o Estado Islâmico de Qandala em 7 de dezembro e, por conseguinte, as unidades do governo continuaram a atacar os esconderijos dos militantes nas montanhas próximas até o dia 18 de dezembro. A queda de Qandala marcou a segunda vez que um grupo afiliado ao Estado Islâmico capturou uma cidade na Somália, mas enquanto a primeira aquisição durou apenas por um período muito curto,[11] o Estado Islâmico conseguiu manter Qandala, uma cidade de grande importância estratégica bem como simbólica, por mais de um mês. [2]

Antecedentes

Quando Abdul Qadir Mumin rompeu com o al-Shabaab e declarou lealdade ao Estado Islâmico do Iraque e do Levante em 2015, apenas cerca de 20 dos 300 combatentes islâmicos baseados em Puntlândia juntaram-se a ele.[12] Durante o ano seguinte, ele e seus seguidores escaparam dos ataques dos partidários da al-Shabaab e recrutaram novos membros; até outubro de 2016, assumiu-se que o grupo de Abdul Qadir Mumin havia crescido significativamente para cerca de 300 combatentes. Assim, à medida que o primeiro aniversário de fundação do Estado Islâmico da Somália se aproximava, o grupo buscava um alvo para seu primeiro grande ataque. Considerando isso, Qandala seria um alvo conveniente, pois o clã de Mumin vivia perto da cidade e a conquista de um assentamento significativo, bem como a proclamação de uma região islâmica em toda a África, poderia dar-lhe mais apoio local e simpatizantes.[6]

Além disso, Qandala é uma cidade de significado tanto estratégico como simbólico: é amplamente conhecido que o Estado Islâmico na Somália recebe especialistas, instrutores, dinheiro, armas e outros materiais de seus aliados no Iêmen. No entanto, o Estado Islâmico é ativo em áreas, que são muito montanhosas e de difícil acesso por terra, de modo que geralmente são abastecidas por mar; assim, a posse de uma cidade portuária como Qandala permitiria-lhes receber mais remessas de suprimentos.[6][7] Por outro lado, Qandala é "um símbolo tradicional de forte resistência à ocupação estrangeira", pois foi o local onde o rebelde e herói folclórico somali Ali Fahiye Gedi queimou uma bandeira italiana e foi posteriormente preso por soldados italianos em 1914.[6]

Campanha

Captura de Qandala pelo Estado Islâmico

No início de 26 de outubro, militantes do Estado Islâmico iniciaram seu ataque surpresa[6] contra Qandala, cortando as linhas telefônicas da cidade, ao passo que encontravam pouca resistência. Como Qandala era defendida apenas por um número muito pequeno de soldados, que foram incapazes deter os combatentes do Estado Islâmico, todos os oficiais do governo e soldados logo fugiram de Qandala. Logo a seguir, sessenta militantes do Estado Islâmico entraram na cidade e capturaram-na sem mais combates, hasteando sua bandeira sobre a delegacia[12][13] e no prédio onde Ali Fahiye Gedi havia sido preso.[6] Ainda que os jihadistas tentassem tranquilizar a população local dizendo-lhes "não entrem em pânico, nós os governaremos de acordo com a sharia (lei) islâmica",[13] os anciãos de Qandala pediram-lhes para que partissem, porém os militantes insistiram que "não irão a lugar nenhum".[7]

No dia seguinte, as escolas de Qandala fecharam e, pela primeira vez na história da cidade, milhares de residentes fugiram de barco e a pé para Bosaso,[6][14][15] enquanto a Força Policial Marítima de Puntlândia implantava várias canhoneiras para interceptar quaisquer remessas de grupos militantes do Iêmen.[6] Oficiais de Puntlândia também afirmaram que o Estado Islâmico começou a se retirar da cidade, embora esses relatos tenham sido depois refutados por moradores locais.[11] Em 23 de novembro, todos os civis residentes em Qandala haviam fugido; 25.700 habitantes locais foram deslocados devido à conquista do Estado Islâmico.[15][10] Enquanto isso, a guarnição do Estado Islâmico começou a erguer defesas ao redor da cidade para se preparar para uma inevitável contraofensiva do governo.[15]

Contraofensiva de Puntlândia

A Força de Segurança de Puntlândia iniciou sua contraofensiva em 3 de dezembro,[5] embora suas forças tenham sido prejudicadas pelo difícil terreno ao redor de Qandala e pelas estradas estreitas que levavam à cidade.[4] Os soldados do governo encontraram a primeira resistência na aldeia de Bashashin, quando foram forçados a parar para desmantelar as minas terrestres que haviam sido colocadas na estrada que passava pela aldeia. Naquele momento, militantes do Estado Islâmico lançaram um ataque surpresa, embora as forças de Puntlândia acabassem repelindo a incursão.[5] Outra grande escaramuça aconteceu no dia 5 de dezembro; além dessas duas batalhas,[4] os combates foram em grande parte esporádicos, embora tenham durado até 7 de dezembro.[10] Naquele dia, as forças de Puntlândia entraram em Qandala por terra e mar, sem encontrar resistência; o Estado Islâmico havia evacuado suas forças da cidade de antemão e subsequentemente retirou-se para Gurur, nas áreas montanhosas ao sul.[4]

Em 18 de dezembro, as forças policiais de Puntlândia atacaram e destruíram uma base do Estado Islâmico em El Ladid, uma aldeia a 30 quilômetros ao sul de Qandala, onde os rebeldes estavam se reagrupando depois de sua retirada.[1]

Resultado

Embora o Estado Islâmico tenha finalmente perdido todo o território capturado e, conforme creditaram as fontes do governo, sofrido pesadas baixas,[4] o fato de um pequeno ramo local do Estado Islâmico capturar uma grande cidade e a manter por mais de um mês "pode ser interpretado como uma importante vitória simbólica para o grupo". [2]

Notas

  1. Qandala foi inicialmente capturado por cerca de 60 combatentes do Estado Islâmico,[7] mas o número de militantes que defenderam a cidade durante a contraofensiva do governo é completamente desconhecido.[5]No geral, estima-se que o Estado Islâmico tenha entre 100[2] a 300 combatentes.[6]

Referências

  1. a b c d Mohamed Olad Hassan (19 de dezembro de 2016). «Regional Somali Forces 'Destroy' Islamic State Base». Voice of America 
  2. a b c d Warner (2017), p. 30.
  3. Caleb Weiss (28 de outubro de 2016). «Islamic State fighters withdraw from captured Somali port town». Long War Journal 
  4. a b c d e f g h i Harun Maruf (7 de dezembro de 2016). «Forces Retake Somali Town Held by Pro-Islamic State Fighters». Voice of America 
  5. a b c d e Harun Maruf (3 de dezembro de 2016). «Somalia Security Forces and IS Fighters Directly Clash for First Time». Voice of America 
  6. a b c d e f g h i j Harun Maruf (28 de outubro de 2016). «Somali Officials Vow to Retake Puntland Town». Voice of America 
  7. a b c Harun Maruf (26 de outubro de 2016). «IS Militants Seize Town in Somalia's Puntland». Voice of America 
  8. «Somalia: Puntland Forces Retake Qandala Town From Isis». AllAfrica.com. 4 de dezembro de 2016 
  9. «Somalia: Seven Militants Killed in Qandala Battle». AllAfrica.com. 4 de dezembro de 2016 
  10. a b c «Somalia: UN - Fighting Near Qandala Town Displaces 25,700». AllAfrica.com. 8 de dezembro de 2016 
  11. a b Caleb Weiss (9 de fevereiro de 2017). «Islamic State claims hotel attack in northern Somalia». Long War Journal 
  12. a b Caleb Weiss (26 de outubro de 2016). «Islamic State in Somalia claims capture of port town». Long War Journal 
  13. a b Feisal Omar; Abdi Sheikh (26 de outubro de 2016). «Islamic State-aligned group takes Somali town, say officials». Reuters 
  14. Mohamed Olad (29 de outubro de 2016). «Three Killed as Rival Somali Troops Clash». Voice of America 
  15. a b c Harun Maruf (25 de Novembro de 2016). «Last Resident Leaves Somali Town Taken by Islamic State». Voice of America 

Bibliografia

  • Warner, Jason (2017). «Sub-Saharan Africa's Three "New" Islamic State Affiliates» (PDF). West Point, New York: Combating Terrorism Center. CTC Sentinel. 10 (1): 28–32. Arquivado do original (PDF) em 30 de abril de 2017 
  • Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em inglês cujo título é «Qandala campaign».
  • v
  • d
  • e
Guerra Civil Somali (2009–presente)
Antecedentes
Operações
e batalhas
Ataques
  • Atentados à base da União Africana em Mogadíscio em 2009
  • Atentado de Beledweyne em 2009
  • Bombardeamento do Hotel Shamo
  • Atentados de Mogadíscio em maio de 2010
  • Atentados em Kampala em 2010
  • Ataque ao Hotel Muna
  • Atentado de Mogadíscio em 2011
  • Batalha de Deynile
  • Tiroteio e sequestro no centro comercial Westgate
  • Ataque à Villa Somalia em 2014
  • Ataque ao Hotel Amalo
  • Ataque ao Hotel Central
  • Atentado do Hotel Makka al-Mukarama
  • Ataque contra a Universidade de Garissa
  • Ataque contra o Ministério da Educação Superior em 2015
  • Ataque de Garowe em 2015
  • Atentado ao Hotel Jazeera Palace
  • Ataques ao Hotel Sahafi
  • Ataque de Mogadíscio em janeiro de 2016
  • Voo Daallo Airlines 159
  • Ataque de Mogadíscio em fevereiro de 2016
  • Atentado de Baidoa em 2016
  • Ataques de Mogadíscio em junho de 2016
  • Atentado de Galkayo em 2016
  • Atentado de Mogadíscio em novembro de 2016
  • Atentado de Mogadíscio em dezembro de 2016
  • Atentados de Mogadíscio em 2 de janeiro de 2017
  • Ataque ao Hotel Dayah
  • Atentado de Mogadíscio em fevereiro de 2017
  • Ataque em Mogadíscio em outubro de 2017
  • Atentados de Mogadíscio em 28 de outubro de 2017
  • Atentados de Mogadíscio em fevereiro de 2018
  • Atentado de Mogadíscio em março de 2018
  • Atentados de Mogadíscio em julho de 2018
  • Atentado de Mogadíscio em setembro de 2018
  • Ataques ao Hotel Sahafi
  • Atentado de Mogadíscio em dezembro de 2018
  • Ataque ao complexo DusitD2 em Nairóbi
  • Explosão na estrada Latema em Nairóbi
  • Atentado de Mogadíscio em 4 de fevereiro de 2019
  • Atentados de Mogadíscio em 28 de fevereiro de 2019
  • Ataque ao Hotel Asasey
  • Atentado de Mogadíscio em 22 de julho de 2019
  • Atentado de Mogadíscio em 24 de julho de 2019
  • Tiroteio em ônibus no Quênia em 2019
  • Atentado terrorista em Mogadíscio de dezembro de 2019
  • Atentado de Afgooye em 2020
  • Atentado de Mogadíscio em agosto de 2020
  • Atentado de Galkayo em 2020
  • Atentado de Mogadíscio em março de 2021
  • Atentado de Mogadíscio em junho de 2021
  • Ataques de março de 2022 na Somália
  • Atentado terrorista em Mogadíscio de outubro de 2022
OEF–HOA
  • Raide de Barawa em 2009
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