Conde do estábulo

Conde do estábulo (em latim: comes stabuli; em grego: κόμης τοῦ σταύλου/στάβλου; romaniz.: komēs tou staulou/stablou) era um oficial romano e bizantino responsável pelos cavalos e animais de carga destinados ao uso do exército e da corte imperial.[1] Do Império Bizantino, foi adotado pelos francos, e é a origem do posto e título de condestável, através do francês antigo conestable.[2][3]

História e função

Soldo do imperador Valente.
Díptico de marfim representando Estilicão, sua esposa Serena e seu filho Euquério.

O posto aparece pela primeira vez no século IV como o tribunus [sacri] stabuli ("tribuno do estábulo [sagrado]"), inicialmente responsável pela cobrança de cavalos das províncias.[1] De acordo com Amiano Marcelino, eles eram classificados igualmente com os tribunos do regimento de guarda escola palatina.[4] No Notitia Dignitatum eles são listados como "prepósito grego e dos estábulos" (praepositi gregum et stabulorum) sob o conde da fortuna privada (comes rerum privatarum).[5] No início do século V, como atesta o Código de Teodósio, eles foram elevados a condes com a patente de vir clarissimus, mas o título de tribuno permaneceu em uso paralelo por algum tempo.[6][7]

Oito titulares do ofício são conhecidos desde o século IV, incluindo o imperador Valente (r. 364–378) e seus cunhados Cereal e Constantiniano. Evidentemente, o posto estava intimamente relacionado com a família imperial. Assim, Estilicão foi nomeado para ele quando se casou com a sobrinha adotiva do imperador Teodósio I (r. 378–395), Serena.[8] Contudo, os titulares raramente são mencionados posteriormente. O grande general Flávio Aécio ocupou o ofício em 451 e, no século VI, a variante "Conde dos Cavalariços Imperiais" foi conferido a generais como Belisário e Constantiniano, enquanto Baduário, um parente do imperador Justino II (r. 565–578), foi registrado pela crônica do século IX de Teófanes, o Confessor, como tendo exercido o ofício de conde dos estábulos imperiais.[1][9] O ofício reaparece em fontes na década de 820, quando o "protoespatário e komēs tou basilikou hippostasiou" Damiano liderou uma expedição mal sucedida contra os árabes em Creta.[10]

O ofício bizantino de conde do estábulo é melhor conhecido durante os séculos IX-X, quando foi classificado como pertencente ao grupo de oficiais militares conhecidos como estratarcas. Junto com o logóteta dos rebanhos, era responsável pelos cavalos imperiais da capital, Constantinopla, e das fazendas estatais de cavalos (mitato), principalmente no grande acampamento militar (aplēkton) em Malagina na Bitínia. Ele normalmente ostentava a dignidade de patrício, e era classificado como quinquagésimo primeiro na hierarquia imperial.[1][9] Durante as procissões imperiais, bem como durante a guerra, acompanhava o imperador bizantino, juntamente com o protoestrator, e desempenhou um papel importante nas recepções de embaixadores estrangeiros.[11]

No século XIII, o ofício de inspiração latina conostaulo parece ter substituído o conde do estábulo, mas outro título, o conde dos cavalos imperiais (em grego: κόμης τῶν βασιλικῶν ἴππων; romaniz.: komēs tōn basilikōn hippōn) apareceu no Dos Ofícios do século XIV de Jorge Codino. Além de trazer ao imperador bizantino seu cavalo e segurá-lo enquanto ele o montava, as funções deste cargo são desconhecidas. Ele não parece ter realizado uma posição dentro da hierarquia da corte, mas sua proximidade com o imperador, aparentemente, o fez adquirir alguma influência, como no caso de Constantino Cadeno, que subiu deste posto para altos cargos políticos sob o imperador Miguel VIII Paleólogo (r. 1259–1282).[1][12]

Oficiais subordinados

Os oficiais subordinados (officium) do conde do estábulo não são explicitamente mencionados em fontes bizantinas, mas a sua composição nos séculos IX e X pode ser inferida, ao menos em parte: Ela Inclui:[1][6][7][13]

  • Dois cartulários, um de Constantinopla (em grego: ὁ ἔσω χαρτουλάριος; "o cartulário interno") e um de Malagina (em grego: ὁ χαρτουλάριος τῶν Μαλαγίνων ou ὁ ἔξω χαρτουλάριος; "cartulário exterior ou provinciano").[6][7][13]
  • O epicta (em grego: ἐπ[ε]ίκτης; romaniz.: ep[e]iktes; de acordo com Bury "um supervisor que força o trabalho"), responsável pela forragem, rega, e outros suprimentos necessários, como ferraduras ou selas.[6][14][13]
  • O saframentário (em grego: σαφραμεντάριος; romaniz.: saphramentarios), a origem de cujo título e sua funções são desconhecidas. Nas fontes, ele parece ser responsável por equipar as mulas imperiais antes de uma expedição.[6][7][13]
  • Quatro condes (komētes) de Malagina (em grego: οἱ δ′ κόμητες τῶν Μαλαγίνων)[6][7][13]
  • Quarenta cavalariços (em grego: οἱ μ′ σύντροφοι τῶν σελλαρίων), também conhecidos como "os cavalariços dos dois estábulos" (em grego: οἱ σύντροφοι τῶν δύο στάβλων, ou seja, Constantinopla e Malagina). Estes foram provavelmente oficiais subalternos encarregados como líderes de destacamentos de mulas.[6][7][13]
  • O celário (em grego: κελλάριος; romaniz.: kellarios) ou apóteta (em grego: ἀποθέτης; romaniz.: apothetēs) do estábulo imperial, responsável pelos celeiros dos estábulos.[6][7][13]

Referências

  1. a b c d e f Kazhdan 1991, p. 1140.
  2. «Constable» (em inglês). Consultado em 23 de novembro de 2012  A referência emprega parâmetros obsoletos |lingua3= (ajuda)
  3. «Constable» (em inglês). Consultado em 23 de novembro de 2012  A referência emprega parâmetros obsoletos |lingua3= (ajuda)
  4. Amiano Marcelino 397, XIV.10.8; XX.2.5.
  5. Notitia Dignitatum. [S.l.: s.n.] Século V. p. XIV.6 
  6. a b c d e f g h Bury 1911, p. 114.
  7. a b c d e f g Guilland 1967, p. 469.
  8. Lenski 2002, p. 52.
  9. a b Guilland 1967, p. 469-470.
  10. Bury 1911, p. 113.
  11. Guilland 1967, p. 470.
  12. Guilland 1967, p. 470-471.
  13. a b c d e f g Oikonomides 1972, p. 339.
  14. Kazhdan 1991, p. 705; 1140.
  • Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em inglês cujo título é «Count of the Stable».

Bibliografia

  • Bury, John B. (1911). The Imperial Administrative System of the Ninth Century: With a Revised Text of the Kletorologion of Philotheos. Londres: Oxford University Press 
  • Guilland, Rodolphe (1967). Le Grand connétable. Berlim: Akademie-Verla 
  • Kazhdan, Alexander Petrovich (1991). The Oxford Dictionary of Byzantium. Nova Iorque e Oxford: Oxford University Press. ISBN 0-19-504652-8 
  • Lenski, Noel Emmanuel (2002). Failure of Empire: Valens and the Roman State in the Fourth Century A.D. Berkeley e Los Angeles: California University Press. ISBN 978-0-520-23332-4 
  • Oikonomides, Nicolas (1972). Les Listes de Préséance Byzantines des IXe et Xe Siècles. Paris: Editions du Centre National de la Recherche Scientifique