Lúcio Júlio Urso Serviano

Lúcio Júlio Urso Serviano
Cônsul do Império Romano
Consulado 90 d.C.
102 d.C.
134 d.C.
Nascimento 45 d.C.
Morte 136 d.C.

Lúcio Júlio Urso Serviano (em latim: Lucius Julius Ursus Servianus; 45–136 (91 anos)) foi um político romano da gente Júlia do final do século I e início do século II. Serviano foi uma importante figura política durante os reinados dos imperadores Nerva, Trajano e Adriano. Ele é famoso por ter sido o último cidadão privado a receber um terceiro consulado, uma honraria que passou a ser exclusiva dos membros da família imperial[1].

Segundo uma inscrição seu nome completo seria Caio Júlio Servílio Urso Serviano (em latim: Gaius Julius Servilius Ursus Servianus). Porém, a História Augusta registra apenas Lúcio Júlio Urso Serviano.

Carreira

Pouco se sabe das origens de Serviano. Ronald Syme defende que ele se chamava originalmente Sérvio Júlio Serviano (em latim: Servius Julius Servianus) e com este nome foi cônsul em 90. Segundo ele, Serviano foi adotado por Lúcio Júlio Urso, cônsul sufecto em 84, 98 e 100, depois de seu consulado, o que levou à mudança de nome. Esta tese não foi refutada por nenhum outro estudioso e é considerada consensual[2]. Antes de ascensão de Trajano, em 98, Serviano se casou com Domícia Paulina, a Jovem, a irmã mais velha de Adriano, trinta anos mais jovem do que ele. Durante o reinado de Trajano (r. 98-117), Paulina e Serviano tiveram uma filha chamada Júlia Serviana Paulina.

Quando Nerva morreu, em 27 de janeiro de 98, Adriano viajou para a Germânia para encontrar Trajano e anunciar a morte de Nerva. Serviano tentou, sem sucesso, impedir a viagem por ciúmes da relação entre os dois. Porém, Serviano e Adriano se reconciliaram logo depois e foram amigos por muitos anos.

Serviano serviu por duas vezes como cônsul no reinado de Trajano e uma terceira vez sob Adriano em 134. Nesse ínterim, foi governador da Germânia Inferior entre 97 e 99[3] e da Panônia entre 99 e 100[4]. Além disto Serviano serviu durante as Campanha dácia de Trajano como um dos principais generais de Trajano. Depois disto, serviu como senador, posição na qual tinha grande poder e influência em Roma. Em algum momento antes de 111, Serviano e Paulina acertaram o casamento de sua filha Júlia com Cneu Pedânio Fusco Salinador, um aristocrata da Hispânia que havia servido como cônsul em 118 como colega do imperador Adriano[5].

Quando Trajano morreu, em 8 de agosto de 117, Adriano se tornou imperador. Serviano foi tratado com particular honraria e foi considerado como um possível sucessor do imperador. Quando Paulina morreu, em 130, Adriano e Serviano compartilharam uma cerimônia religiosa privada em sua homenagem. Conforme o longo reinado de Adriano foi se aproximando do final, porém, o imperador mudou de ideia sobre Serviano. Apesar de considerá-lo capaz de governar como imperador, Serviano, já com mais de noventa anos de idade era claramente velho demais para a posição. A atenção de Adriano se voltou então para o neto de Serviano, Cneu Pedânio Fusco Salinador, que tinha o mesmo nome de seu pai. O jovem Salinador, que era também seu sobrinho-neto (através de Paulina), foi promovido e passou a ser tratado de modo diferenciado na corte imperial. Serviano, que sempre gostou da ideia de seu neto como sucessor de seu cunhado e amigo, aprovou a solução do imperador.

Porém, Adriano mudou de ideia novamente em 136 e decidiu adotar Lúcio Élio como seu filho e herdeiro. Serviano e jovem Salinador ficaram furiosos e decidiram desafiar o imperador. É possível que Salinador tenha inclusive tentado um golpe de estado contra Adriano e Serviano acabou implicado. Para evitar um conflito na sucessão, Adriano ordenou que os dois fossem executados[6]. Ironicamente Élio morreu antes de Adriano, em 138, e Adriano acabou adotando Antonino Pio.

Amizade com Plínio, o Jovem

Serviano era amigo do senador e historiador Plínio, o Jovem. Duas das cartas sobreviventes de Plínio são endereçadas a ele e Plínio o menciona em outras duas[7]. Por influência de Serviano, Trajano concedeu a Plínio uma imunidade geralmente concedida apenas a um pai de três filhos, a jus trium liberorum. Antes de morrer, por volta de 111, Plínio enviou uma carta de congratulações a Serviano e Paulina pelo casamento da filha.

Árvore genealógica

  • v
  • d
  • e
Árvore genealógica da Dinastia nerva-antonina
Q. Márcio Bareia SoranoQ. Márcio Bareia SuraAntônia FurnilaM. Coceio NervaSérgia PlaucilaP. Élio Adriano
Tito
(r. 79–81)
Márcia FurnilaMárciaTrajano paiNerva
(r. 96–98)
Úlpia[i]Élio Adriano Marulino
Júlia Flávia[ii]Marciana[iii]C. Salônio Matídio[iv]Trajano
(r. 98–117)
PlotinaP. Acílio AcianoP. Élio Afer[v]Paulina Maior[vi]
Lúcio Míndio
(2)
Libão Rupílio Frúgio
(3)
Matídia[vii]L. Víbio Sabino
(1)[viii]
Paulina Menor[vi]L. Júlio Urso Serviano[ix]
Matídia Menor[vii]Suetônio?[x]Sabina[iii]Adriano
[v][xi][vi] (r. 117–138)
Antínoo[xii]
Júlia Balbila?[xiii]C. Fusco Salinador IJúlia Serviana Paulina
M. Ânio Vero[xiv]Rupília Faustina[xv]Boiônia PrócilaCn. Árrio Antonino
L. Ceiônio CômodoÁpia SeveraL. Fusco Salinador
L. Cesênio PetoÁrria AntoninaÁrria Fadila[xvi]T. Aurélio Fulvo
L. Cesênio AntoninoL. Ceiônio CômodoFundânia Pláuciaignota[xvii]C. Avídio Nigrino
M. Ânio Vero[xv]Domícia Lucila[xviii]Fundânia[xix]M. Ânio Libão[xv]FAUSTINA[xvi]Antonino Pio
(r. 138–161)[xvi]
L. Élio César[xvii]Avídia Pláucia[xvii]
Cornifícia[xv]MARCO AURÉLIO
(r. 161–180)[xx]
FAUSTINA Menor[xx]C. Avídio Cássio[xxi]Aurélia Fadila[xvi]LÚCIO VERO
(r. 161–169)[xvii]
(1)
Ceiônia Fábia[xvii]Pláucio Quintílio[xxii]Q. Servílio PudenteCeiônia Pláucia[xvii]
Cornifícia Menor[xxiii]M. Petrônio SuraCÔMODO
(r. 177–192)[xx]
Fadila[xxiii]M. Ânio Vero César[xx]Ti. Cláudio Pompeiano
(2)
Lucila[xx]M. Pláucio Quintílio[xvii]Júnio Licínio BalboServília Ceiônia
Petrônio AntoninoL. Aurélio Agáclito
(2)
Aurélia Sabina[xxiii]L. Antíscio Burro
(1)
Pláucio QuintílioPláucia ServíliaC. Fúrio Sabino TimesiteuAntônia GordianaJúnio Licínio Balbo?
Fúria Sabina TranquilinaGORDIANO III
(r. 238–244)
  • (1) = 1ª esposa
  • (2) = 2ª esposa
  • (3) = 3ª esposa
  •   Vinho escuro indica um imperador da Dinastia nerva-antonina

      Vinho claro indica um herdeiro aparente da mesma dinastia que não chegou a assumir o trono

      Cinza indica um aspirante fracassado ao trono

      Roxo indica um imperador de outras dinastias
  • Linhas tracejadas indicam uma adoção; linhas pontilhadas indicam casos amorosos ou relações fora do casamento
  • Minúsculas = pessoas deificadas postumamente (augustos, augustas ou outras)
Notas:

Exceto se explicitado de outra forma, as notas abaixo indicam que o parentesco de um indivíduo em particular é exatamente o que foi indicado na árvore genealógica acima.

  1. Irmã do pai de Trajano: Giacosa (1977), p. 7.
  2. Giacosa (1977), p. 8.
  3. a b Levick (2014), p. 161.
  4. Marido de Úlpia Marciana: Levick (2014), p. 161.
  5. a b Giacosa (1977), p. 7.
  6. a b c DIR contributor (Herbert W. Benario, 2000), "Adriano".
  7. a b Giacosa (1977), p. 9.
  8. Marido de Salonina Matídia: Levick (2014), p. 161.
  9. Smith (1870), "Júlio Servianus".
  10. Suetônio seria um possível amante de Sabina: uma possível interpretação de HA, Adriano 11:3
  11. Smith (1870), "Adriano", pp. 319–322.[ligação inativa]
  12. Amante de Adriano: Lambert (1984), p. 99 e passim; deificação: Lamber (1984), pp. 2-5, etc.
  13. Júlia Bálbila seria uma possível amante de Sabina: A. R. Birley (1997), Adriano, the Restless imperador, p. 251, citado em Levick (2014), p. 30, que é cético em relação a esta hipótese.
  14. Marido de Rupília Faustina: Levick (2014), p. 163.
  15. a b c d Levick (2014), p. 163.
  16. a b c d Levick (2014), p. 162.
  17. a b c d e f g Levick (2014), p. 164.
  18. Esposa de M. Ânio Vero: Giacosa (1977), p. 10.
  19. Esposa de M. Ânio Libão: Levick (2014), p. 163.
  20. a b c d e Giacosa (1977), p. 10.
  21. Pseudo-Dião Cássio (72.22) conta que Faustina, a Velha, prometeu se casar com Avídio Cássio, uma história que também aparece na HA "Marco Aurélio" 24.
  22. Marido de Ceiônia Fábia: Levick (2014), p. 164.
  23. a b c Levick (2014), p. 117.
Referências:
  • DIR contributors (2000). «De Imperatoribus Romanis: An Online Encyclopedia of Roman Rulers and Their Families». Consultado em 14 de abril de 2015 
  • Giacosa, Giorgio (1977). Women of the Césars: Their Lives and Portraits on Coins. Translated by R. Ross Holloway. Milan: Edizioni Arte e Moneta. ISBN 0-8390-0193-2 
  • Lambert, Royston (1984). Beloved and God: The Story of Adriano and Antinous. New York: Viking. ISBN 0-670-15708-2 
  • Levick, Barbara (2014). Faustina I and II: Imperial Women of the Golden Age. [S.l.]: Oxford University Press. ISBN 978-0-19-537941-9 
  • William Smith, ed. (1870). Dictionary of Greek and Roman Biography and Mythology. [S.l.: s.n.] 

Ver também

Cônsul do Império Romano
Precedido por:
Tito Aurélio Fulvo

com Marco Asínio Atratino
com Públio Salústio Bleso (suf.)
com Marco Peduceu Seniano (suf.)
com Aulo Vicírio Próculo (suf.)
com Mânio Labério Máximo (suf.)

Domiciano XV
90

com Marco Coceio Nerva II
com Lúcio Cornélio Púsio Ânio Messala (suf.)
com Lúcio Antíscio Rústico (suf.)
com Sérvio Júlio Serviano (suf.)
com Quinto Aceu Rufo (suf.)
com Caio Caristânio Frontão (suf.)
com Públio Bébio Itálico (suf.)
com Caio Aquílio Próculo (suf.)
com Lúcio Álbio Pulaieno Polião (suf.)
com Cneu Pinário Emílio Cicatricula Pompeu Longino (suf.)
com Marco Túlio Cerial (suf.)
com Cneu Pompeu Catulino (suf.)

Sucedido por:
Mânio Acílio Glabrião

com Marco Úlpio Trajano I
com Cneu Minício Faustino (suf.)
com Públio Valério Marino (suf.)
com Quinto Valério Vegeto (suf.)
com Públio Metílio Nepos (suf.)

Precedido por:
Trajano IV

com Quinto Articuleio Peto II
com Sexto Ácio Suburano Emiliano (suf.)
com Caio Sertório Broco Quinto Serveu Inocente (suf.)
com Marco Mécio Céler (suf.)
com Lúcio Arrúncio Estela (suf.)
com Lúcio Júlio Marino Cecílio Simplex (suf.)

Lúcio Júlio Urso Serviano II
102

com Lúcio Licínio Sura II
com Lúcio Fábio Justo (suf.)
com Tito Dídio Segundo (suf.)
com Lúcio Publílio Celso (suf.)
com Lúcio Antônio Albo (suf.)
com Marco Júnio Hômulo (suf.)

Sucedido por:
Trajano V

com Mânio Labério Máximo II
com Quinto Glício Atílio Agrícola II (suf.)
com Públio Metílio Nepos (suf.)
com Quinto Bébio Mácer (suf.)
com Caio Trebônio Próculo Mécio Modesto (suf.)
com Públio Calpúrnio Mácer Cáulio Rufo (suf.)

Precedido por:
Marco Antônio Ibero

com Públio Múmio Sisena
com Quinto Júnio Rústico (suf.)
com Tibério Cláudio Ático Herodes (suf.)

Lúcio Júlio Urso Serviano III
134

com Tito Víbio Varrão

Sucedido por:
Tito Tutílio Luperco Ponciano

com Públio Calpúrnio Atiliano


Referências

  1. Caillan Davenport, "Iterated Consulships and the Government of Severus Alexander", Zeitschrift für Papyrologie und Epigraphik, 177 (2011), p. 288
  2. Olli Salomies, Adoptive and Polyonymous Nomenclature in the Roman Empire (Helsinki: Societas Scientiarum Fennica, 1992), p. 51
  3. Werner Eck, "Jahres- und Provinzialfasten der senatorischen Statthalter von 69/70 bis 138/139", Chiron, 12 (1982), pp. 328-330
  4. Eck, "Jahres- und Provinzialfasten", pp. 332-334
  5. Ronald Syme, "A Dozen Early Priesthoods", Zeitschrift für Papyrologie und Epigraphik, 77 (1989), pp. 248-250
  6. Anthony Birley, Hadrian the Restless Emperor, pp. 291-292.
  7. Plínio, o Jovem, Epistulae 3.17 e VI.26 são endereçadas a Serviano; ele é mencionado em VII.6.9 e X.2.1.

Bibliografia